Fernando Calmon

Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.

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MERCADO VAI MELHORAR, APESAR DO INÍCIO FRACO

Postado em 10/02/2022 - 17:07

O primeiro mês do ano apontou números fracos em vendas internas de automóveis e comerciais leves e pesados: 126.500 unidades. Em relação a janeiro de 2021 a queda foi 26,1% explicada por uma combinação de fatores que vão além da sazonalidade observada normalmente. A dificuldade mundial na cadeia de suprimentos e o avanço da variante Ômicron da Covid-19 voltaram a afetar também mercados no exterior com quedas da ordem de 20% na França, Itália e Coreia do Sul. A produção caiu um pouco mais (27,4%), enquanto exportações apresentaram leve alta de 6,6%.

 

No Brasil, especificamente, houve outros acontecimentos como chuvas acima da média e alagamentos em diversas cidades. Também ocorreram pequenos atrasos nos emplacamentos com a consolidação do Renave (Registro Nacional de Veículos em Estoque). Esse sistema, aperfeiçoado pela nova Secretaria Nacional de Trânsito (antigo Denatran), torna mais seguras as transações em concessionárias e lojas independentes. Agora em fevereiro está normalizado.

 

Estoques totais nas fábricas e concessionárias continuam baixos (apenas 17 dias) e assim levam também a adiamento da decisão de compra por falta de modelos específicos. O principal fator inibidor do crescimento das vendas continua sendo a escalada das taxas de juros, na faixa de 27% ao ano, semelhante ao nível de janeiro de 2016. Trata-se de um remédio amargo, porém incontornável para controle da inflação.

 

Os preços dos veículos tiveram trajetória de alta em 2021 e isso significa fator inibidor de vendas. Entretanto, tanto Anfavea quanto Fenabrave mantêm suas previsões de crescimento este ano frente a 2021: mais 8,5% e mais 4,6%, respectivamente. A Fenauto, que reúne lojistas independentes de todo o País no mercado de veículos seminovos e usados, também reportou queda nas vendas de 29% na comparaçãocom janeiro do ano passado. Porém, mantém cautela com viés otimista para 2022, sem arriscar uma previsão.

 

A pandemia continua a afetar o crescimento econômico do País. Em 2021 o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu em torno de 4,5% sobre 2020 porque a base comparativa era muito baixa. Este ano as primeiras projeções de economistas apontam para crescimento de apenas 0,5%, o que realmente não ajuda a vender mais automóveis e comerciais leves.

 

No entanto, três fatores indicam que 2022 terá vendas de razoáveis a boas. As pessoas não puderam viajar de férias ou a lazer em 2020 e 2021 e vêm redirecionando a economia forçada para trocar de carro. Esse comportamento ainda mostrará reflexos positivos este ano.

 

Aplicativos de mobilidade em cidades grandes estão menos competitivos em preço e as queixas sobre cancelamentos e demora para atender as chamadas aumentaram.

 

E, por fim, há maneiras indiretas, se necessário, de comprimir a rentabilidade sobre as vendas das fabricantes de veículos sem mudar os preços sugeridos. Isso acontece com planos de financiamento especiais que incluem carência para o início de pagamento e juros um pouco menores. Um desconto disfarçado para estimular o consumidor, além dos bônus tradicionais. Cerca de 60% das vendas no Brasil são financiadas.

 

Por tudo isso, crescimento de até 10% sobre o ano passado, mais do que provável, é factível.

 

ALTA RODA

 

SÃO PAULO MOTOR EXPERIENCE, de 6 a 14 de agosto próximos, será o evento que substituirá o Salão do Automóvel tradicional, cuja primeira edição foi em 1960. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, “está fora de cogitação a volta às exposições estáticas em grandes estandes”. Ainda em fevereiro a RX Brazil (mais conhecida como Reed Alcântara) anunciará os pormenores. O local é o autódromo de Interlagos com foco em testes abertos aos visitantes em diferentes traçados, inclusive para carros elétricos. Há rumores de adesão de algumas fabricantes, mas ainda não se sabe quais.

 

STRADA manteve em janeiro sua posição de veículo leve mais vendido, como já ocorria desde o ano passado. É a primeira picape a conseguir esse feito. A Fiat mostra confiança no sucesso do produto com a oferta do câmbio automático CVT de sete marchas, que responde por cerca de 20% das vendas com tendência de alta. Versão de cabine dupla Ranch tem comportamento ágil, mesmo perdendo cerca de 3% de potência e torque para se enquadrar nas regras do Proconve PL7. Agora são 98 cv(G)/107 (E). O modo Sport torna o motor mais responsivo e é particularmente útil quando a picape está carregada. Permanece o controle de tração acionado por botão para trechos de terra não tão desafiadores.

 

BATERIAS de estado sólido podem consolidar os carros elétricos, sem as limitações atuais, embora em prazo ainda indefinido. As baterias de íons de lítio têm melhorado, mas a produção em alta escala traz desafios desde a mineração dos metais até os custos que não caem no ritmo esperado. Pelo contrário, a maior fabricante atual, a chinesa CATL, aumentou os preços em 20%. Há outra dificuldade e mais bizarra: falta de engenheiros suficientes, no mundo todo, para ampliar pesquisa e desenvolvimento.

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