Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorNada como uma “ameaça” de médio ou longo prazo a qualquer negócio para chacoalhar a criatividade humana. No caso de propulsão veicular o esforço técnico aumenta muito e, acima de tudo, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Acontece agora com os motores a combustão interna. Precisam diminuir o consumo de combustíveis fósseis de todas as formas para lidar com o avanço inevitável da tração elétrica. Os resultados medem-se pelas emissões de gramas de CO2 por quilômetro rodado. Esse parâmetro aplica-se também aos carros a bateria porque a fonte de energia elétrica para recarregá-la emite CO2 em diferentes níveis.
Uma das polêmicas atuais envolve a “régua” para medir o consumo na vida real, ou seja, fora dos rolos dinamométricos que garantem repetibilidade e previsão essenciais nas medições. Nos EUA e no Brasil isso se dá por meio de um fator de correção fixo, solução do tipo pecar por excesso. Mas da Europa vêm agora boas notícias.
Se o consumo em condições reais de uso é o que importa, as entidades vigilantes do meio ambiente Transport & Environment e France Nature Environnement juntaram-se ao Bureau Veritas e publicaram novo protocolo de testes confiável, fruto de rigoroso processo científico. O existente Novo Ciclo Europeu de Condução (não tão novo, criado há quase 20 anos) sempre foi criticado por ser brando demais e longe da realidade. Não é válido compará-lo com os resultados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular.
O primeiro grupo automobilístico a aderir foi a PSA (Peugeot, Citroën e DS). As medições são efetuadas em eixos urbanos e rodoviários públicos, abertos ao trânsito em condições reais de condução (utilização da climatização, pesos de bagagem e passageiros, além de declives e aclives) e com condutores não profissionais. A repetibilidade e precisão são praticamente equivalentes às de laboratórios.
Passo seguinte vem de novas tecnologias que em um primeiro momento podem até ser caras, mas fundamentais para que os motores a combustão sobrevivam por mais algumas décadas. Há várias sendo desenvolvidas ao mesmo tempo, das quais destacam-se:
• Sistema elétrico de 48 volts
• Compressor elétrico para turbos
• Ciclo Atkinson/Miller (modificação do tradicional Otto)
• Desligamento de cilindros
• Transmissão com roda-livre
• Taxa de compressão variável
O Brasil também precisa entrar nesse esforço mundial. Em 2030 terá que importar algo como 400.000 barris/dia de gasolina, três vezes mais do que hoje, mesmo sendo exportador líquido de petróleo. Ideal seria cobrir este déficit com uso de etanol, combustível praticamente neutro em emissões de CO2. No recente II Seminário Internacional sobre Uso Eficiente de Etanol, realizado no Rio de Janeiro, foram discutidas soluções viáveis e a custos palatáveis.
Entre as boas alternativas propostas, Ricardo Abreu, diretor do Sindipeças, sugeriu aumentar a atratividade desse combustível renovável de baixíssima pegada de carbono por meio do etanol hidratado com baixo teor de água (apenas 1% contra os atuais 5% em massa). O Brasil hoje representa apenas um quarto da produção mundial de etanol e isso talvez viabilizasse a adoção de motores flex em mais países.
RODA VIVA
Como outubro mostrou estabilização (por dias úteis de vendas), Anfavea supõe uma reação de mercado em novembro e dezembro. Mesmo porque os dois últimos meses do ano passado foram bastante fracos, o que favorece a base comparativa. A entidade ainda espera que as vendas totais (incluindo comerciais leves e pesados) se aproximem de 2,1 milhões de unidades.
Estoques em fábricas e concessionárias estabilizados em 40 dias (setembro versus outubro) sinalizam que a produção, influenciada pelas exportações em alta e a aceleração na Volkswagen depois de mais de 30 dias parada por desentendimento com fornecedores, “salve” o faturamento da indústria nestes dois últimos meses do ano. A conferir.
Fiat completou a linha Toro com motor flex de 2,4 litros, 174/186 cv e 23,6/24,9 kgfm (gasolina/etanol). A estratégia é oferecer a picape, na versão única Freedom por R$ 98.730 e câmbio automático de 9 marchas ao mesmo preço da diesel 4x2 com câmbio manual. Desempenho melhorou bastante em relação ao de 1,8 litro, apesar de previsível consumo elevado.
Marca de peso no mercado de mapas digitais, a HERE (propriedade de Audi, BMW e Daimler) busca ampliar espaço entre concorrentes como Google, TomTom e Waze. Orientações e escolhas de rotas são por meio de aplicativo próprio (para Android e IOS) e razoavelmente eficientes em São Paulo. Dureza é enfrentar a massa de informações em tempo real do Waze.
Correção: em coluna anterior ocorreu um lapso ao citar os quatro produtos inteiramente novos que a VW prepara para o Brasil na sua arquitetura mais moderna (MQB A0), a partir de 2017. Haverá a nova picape Saveiro e não a volta da Parati, pois, infelizmente, station wagons ou peruas tornaram-se desinteressantes para os compradores, voltados agora a SUVs e crossovers.