Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorDe uns tempos para cá, pesquisas apontam desinteresse dos jovens em dirigir automóveis ou até se candidatar a uma carteira de motorista. Essa tendência aparece em países centrais de alta taxa de motorização e se atribui, entre outras razões, ao crescente grau de conectividade da internet em dispositivos portáteis, à menor necessidade de deslocamentos e, de certa forma, a meios de transporte coletivos e alternativos, incluindo aplicativos para táxis e motoristas particulares do Uber.
Quem produz autopeças, fabrica veículos e os comercializa estão atentos sobre o impacto desses novos consumidores. Já se prevê salões de concessionárias diminuindo de área e até com apenas um ou dois modelos em exposição – o mais vendido e/ou o recém-lançado.
No Brasil esse caminho poderá também ser trilhado, só não se sabe em que ritmo. Para prospectar intenções, a pesquisa Jovem x Automóvel conduzida por Lupércio Thomaz, jornalista e diretor da rede social Campus Universitário, entrevistou 404 estudantes (51%, masculino; 48%, feminino) entre 18 e 25 anos, de São Paulo e Ribeirão Preto. Uma das revelações foi de que 59% dos entrevistados ainda não possuem carteira de habilitação, mas entre esses 95% pretendem fazê-lo, demonstração de sensível diferença em relação às enquetes no exterior.
Curiosamente, o carro significa expressão de liberdade para 18% desses universitários, enquanto 51% o consideram apenas meio de transporte. Para as gerações do Século XX a resposta à mesma pergunta provavelmente teria proporção invertida.
Outros dados interessantes da pesquisa:
• 69% declaram que utilizam pouco ou raramente carros em seus deslocamentos. Ônibus (46%) e metrô (31%) são as alternativas mais citadas. Motocicleta, 3% e bicicleta, 5%.
• 60% dão carona a quem estuda ou trabalha junto.
• 90% usariam menos o automóvel, se o transporte público fosse melhor.
• 77% aceitariam compartilhar um veículo, a exemplo de bicicletas.
• 73% não estariam dispostos a se endividar para ter um carro.
• Se tivessem R$ 50.000, apenas 13% comprariam um automóvel. Outras respostas: intercâmbio cultural (18%), viagem de estudo (15%), pós-graduação (12%), cursos complementares (11%), outra graduação (8%), turismo (7%) e outros projetos (16%). Entre os que indicaram a preferência pelo carro, 53% são homens e 47% mulheres.
Das conclusões que se podem tirar do estudo, há sentimento de diminuição de prioridade do automóvel na vida dos jovens. Vontade de compartilhar e não se endividar podem ser sinais de alerta tanto para fabricantes quanto concessionárias sobre o futuro do negócio. Mais negativo, porém, o fato de apenas 11% considerarem o carro como objeto de desejo, enquanto 7% o apontam como fonte de poluição/barulho, 6%, vilão do meio ambiente; 5%, estorvo para o trânsito; 2%, gerador de acidentes.
Por outro lado, objeto de desejo e expressão de liberdade somam 29%, contra 20% de posições críticas. Também é necessário frisar que a pesquisa foi conduzida em duas das maiores cidades do estado mais desenvolvido do País. Em regiões com taxa de motorização menor, o resultado certamente seria outro. Para sorte do automóvel.