Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorA conectividade veio para ficar, mesmo que em diferentes níveis de tecnologia, de preço e de infraestrutura. Há grandes diferenças também entre países porque o poder aquisitivo está no centro das escolhas do consumidor e, assim, carros mais baratos têm limitações de preços e oferta de equipamentos. No Brasil, os telefones inteligentes respondem atualmente por dois terços das vendas de celulares e a maioria dos modelos de veículos à venda permite, pelo menos, uma conexão Bluetooth sem-fio para um sistema viva-voz.
Centrais multimídias, de vários tamanhos e preços, estão prontas para receber comandos de voz até em carros compactos. Mas agora surgem alguns problemas e, mesmo nos EUA onde tudo começou, já preocupam. Os fabricantes de automóveis enfrentam desafios com essa tecnologia e causam frustrações aos clientes pela forma como os novos sistemas funcionam mal ou deixam a desejar.
A empresa de pesquisas de mercado J.D. Power publicou recentemente um relatório apontando que dificuldades da tecnologia de conectividade são os defeitos com maior número de queixas entre compradores americanos de carros novos. E a reclamação mais recorrente? Justamente o sistema a bordo de reconhecimento de voz. Conectividade por Bluetooth e erros de navegação foram assinalados ao lado do “clássico” ruído de vento, que até hoje incomoda, por razões de projeto, acabamento ou de erros na linha de montagem.
Esses, digamos, deslizes acontecem em um momento de grande procura por itens tecnológicos. “Tais defeitos são inerentes a erros de projeto e não podem ser consertados na rede de concessionárias. Denotam angústia para quem compra um carro novo”, apontou a pesquisa. É possível, por exemplo, reencaixar uma peça qualquer mal colocada, mas se há deficiência em um sistema, nada feito.
Os defeitos mais citados são: não reconhecimento ou interpretação errônea dos comandos verbais (63%), idem para nomes e/ou palavras (44%) e números (31%). A soma passa de 100% porque mais de uma falha pode ser apontada no mesmo veículo. Proprietários também se queixaram de confusão entre botões e comandos distribuídos em raios do volante, painel e console que prejudicam o grau de intuitividade necessário para se usar de forma eficiente soluções tão bem-vindas.
Alguns fabricantes, no entanto, detectaram e resolveram grande parte das críticas simplesmente realocando (e melhorando) o microfone que saiu do sistema multimídia embutido no painel para o teto, junto ao para-brisa. Os motoristas falam e dão ordens verbais enquanto dirigem, sem tirar os olhos do caminho. Assim o microfone precisa de uma colocação compatível para o correto reconhecimento de voz. Essa mudança pode ser simples quando se muda o projeto na fábrica ou no fornecedor. Para os veículos em circulação é quase impossível fazer adaptações.
Outra conclusão do estudo é que nos EUA o fator preço tem peso, embora sem a mesma intensidade daqui. Entre os compradores 70% indicam interesse por comandos de voz, mas quando informados do custo de US$ 500 (R$ 1.400) a intenção de compra cai para 44%.