Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorA vida vai ficar cada vez mais difícil para fabricantes que “militam” no disputado mercado brasileiro de compactos hatches. Afinal, são nada menos de 28 modelos (incluídos quatro subcompactos), entre nacionais e importados, que representam 53% dos automóveis vendidos por ano ou cerca de 1,5 milhão de unidades. Essa faixa cobiçada por todos os fabricantes tem aumentado seu grau de exigência e compradores estão dispostos a gastar um pouco além, desde que se ofereça mais por menos.
Recado entendido pela Renault, que começa a vender em duas semanas a segunda geração do Sandero, depois de sete anos. A empresa partiu para uma virada cultural, de estilo à engenharia, o que aumentou sua atratividade sem deixar de lado o conceito quase-médio a preço de compacto. Manteve a versão de entrada abaixo dos R$ 30.000 (exatos R$ 29.890) e agregou direção de assistência hidráulica de série. Na média das três versões seu preço caiu 5% – o que não é pouco – e ampliou o conceito de inovação acessível, iniciado ainda na primeira geração com o sistema de navegação GPS.
Agora é possível ter câmera de ré, sensores traseiros de estacionamento e ar-condicionado digital, por exemplo, na versão de topo, por ainda bem interessantes R$ 43.820. A fábrica investiu em aerodinâmica (Cx reduzido de 0,38 para 0,35), arcabouço estrutural (deve melhorar nos testes de impacto), adotou motor de 1 litro mais evoluído (mesmo do Clio e Logan), evoluiu as suspensões (bitolas maiores), cuidou melhor do interior (novo quadro de instrumentos e acabamentos) e até caprichou no desenho das calotas para aro de 15 pol. (rodas de liga leve só na versão mais cara).
O Sandero manteve credenciais de ótimo espaço interno para pernas (entre-eixos de 2,59 m), largura para ombros e porta-malas referencial no segmento com 320 litros. Resolveu coisas simples como realocação do comando elétrico dos espelhos externos, mas o tanque de combustível deveria comportar mais de 50 litros.
Numa primeira avaliação, dá para notar mais silêncio a bordo e a direção ganhou respostas um pouco melhores, apesar da regulagem de altura do volante desagradável, do tipo “queda-livre”. Desenho dos instrumentos é honesto, mas leitura deixa a desejar. Alavanca de câmbio continua sensível aos movimentos bruscos de aceleração. Motor de 1,6 L (106 cv/etanol; apenas 98 cv/gasolina) ficará rapidamente em desvantagem frente aos concorrentes, enquanto o de 1 litro (80 cv/77 cv), que ainda responde por 40% das vendas, tem adversários incômodos na tendência dos três-cilindros.
Dentro de 45 dias chegará o câmbio automatizado de uma embreagem, que substituirá o automático da geração anterior. Fabricado pela ZF custará em torno de R$ 3.000 e, assim, potencializa aumentar participação atual de 5% nas vendas para pelo menos 10%.
A Renault pretende manter o Sandero entre os 10 automóveis mais vendidos (começou como 17º, em 2007). Não será fácil com o avanço do up! e o novo Ka, já no começo de agosto. Estará contente, porém, se ficar entre os três preferidos numa lista do que considera concorrentes mais diretos como Fiesta, Fox, HB20 e Onix. Estes modelos teriam resultados menos afetados por vendas a frotistas.
RODA VIVA
DESDE o final do primeiro trimestre já se considerava certo IPI reduzido até o fim do ano. E acabou confirmado. Desânimo com economia brasileira, crédito restrito, acomodação após nove anos de crescimento e antecipação de vendas nos momentos de euforia são explicações para duas quedas sucessivas: 1% em 2013 e 5% este ano (tudo indica).
TROCA inteligente: sairia a discutível obrigatoriedade (futura) de rastreadores e entrariam equipamentos de segurança de baixo custo. Há até o mote da década de segurança viária, campanha da ONU que o Brasil abraçou e quase nada fez. Não se pode continuar a oferecer carros sem pelos menos dois cintos retráteis e dois apoios de cabeça no banco traseiro como equipamentos de série.
FORD confirmou que versão sedã do novo Ka terá apenas o sinal “+” para se diferenciar do hatch. Na realidade, o novo modelo só herdou o nome do antigo Ka. Sua arquitetura é a mesma do novo Fiesta, inclusive distância entre-eixos. Apenas os balanços dianteiro e traseiro serão menores, mas o formato da carroceria melhora o espaço interno.
FIAT retirou o nome Palio da versão 2015 da station Weekend. O que aparentemente significaria apenas uma simplificação, na realidade reflete o menor interesse dos compradores pelas peruas em razão do avanço dos utilitários esporte. Já se prevê, infelizmente, o fim desse segmento no Brasil em poucos anos. Weekend, por exemplo, não terá sucessora.
VOLVO, fabricante paranaense de caminhões, fez um ótimo trabalho que chamou de atlas da acidentalidade no transporte rodoviário brasileiro, focado em veículos pesados. A publicação traz uma compilação de dados oficiais de todos os tipos de acidentes em estradas federais do País. Esperamos que tenha eco nas decisões por um trânsito mais seguro.