Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorO aguardado primeiro plano estratégico quinquenal da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) foi anunciado em Detroit, semana passada. Sergio Marchionne, presidente do grupo, não escolheu os EUA à toa para anunciar suas ambiciosas metas 2014/2018. Afinal, a antiga Chrysler LCC aproveitou bastante bem a rápida recuperação do mercado americano, que saltou de menos de 10 milhões/ano em 2009 para estimados 16 milhões este ano. Outra etapa crucial é abrir o capital na bolsa de Nova York, concluída a fusão Fiat com a Chrysler, até o fim do ano.
Para o Brasil, dentro da região América Latina, a FCA reservou atenção especial na apresentação mundial em Detroit. A Fiat, de fato, liderou as vendas internas em 11 dos últimos 12 anos e pôde gerar importante fluxo financeiro para a sofrida sede na Itália. Nova fábrica de Goiana (PE) começa a produzir no primeiro trimestre de 2015 o Jeep Renegade (Projeto 521), sem a companhia do Fiat 500 X, como acontece na instalação italiana de Melfi. Confirmaram-se, no entanto, dois novos produtos para 2016: uma picape média (Projeto 226) de construção monobloco para 1.000 kg de carga (Fiat) e um novo SUV/crossover (Projeto 551) na mesma arquitetura da picape para a marca Jeep, posicionado entre Renegade e Cherokee.
Esses três produtos da fábrica pernambucana têm maior valor agregado e são óbvios para alcançar retorno financeiro de um investimento pesado para atrair fornecedores de longe e capacitar mão de obra. Embora a Fiat ainda não confirme, o modelo subcompacto para combater VW up!, futuro Chevrolet e outros como Chery QQ, fica mesmo em Betim (MG), conforme a coluna antecipou. Rebatizado de Projeto X1H (antes 344), lançamento está previsto para o segundo semestre de 2015.
O objetivo do Grupo FCA na América Latina é passar de 900.000 unidades/ano (2013) para 1,3 milhão (2018), com papel preponderante para a Jeep – crescimento de 640% – na região. Já as outras marcas (Chrysler, Dodge e RAM) não cresceriam.
Analistas europeus foram mais céticos que os americanos quanto à expansão do grupo ítalo-americano, com sede na Holanda e domicílio fiscal na Inglaterra. Chamou atenção a FCA prever quintuplicar as vendas da Alfa Romeo e quadruplicar as da Maserati em apenas cinco anos. Deve-se notar que é a terceira vez que Marchionne decide relançar a marca Alfa Romeo, dessa vez do alto de um investimento de € 5 bilhões (R$ 15 bilhões) e oito novos modelos, todos de tração traseira ou 4x4.
A estratégia, em linhas gerais, está correta. Produzir focado em carros compactos gera margens insuficientes para se manter competitivo nos mercados mundiais. O duro é que lançamentos dependem de aceitação dos compradores, além de concorrentes terem investidos antes e do fato de manterem o ritmo.
No Brasil, principal mercado da Fiat no mundo, também há disputas que se tornarão ainda mais acirradas. As Quatro Grandes (Chevrolet, Fiat, Ford e VW) dominavam 98% do mercado de automóveis e comerciais leves em 1990; no primeiro quadrimestre deste ano caíram ao patamar mais baixo da história: 65,6%. E novos entrantes não param de chegar, com tendência de tirar vendas primariamente dos que lideram.
Otimismo com realismo talvez fosse o caminho mais seguro na consolidação de um novo grupo de atuação mundial.
RODA VIVA
NOME do SUV compacto que a Honda lançará em 2015, da nova fábrica de Itirapina (SP), não será Vezel (Japão), nem HR-V (Europa e EUA), este último já usado aqui no caminhão leve da Hyundai. Bem cotado, hoje: Urban (de Urban Concept, surgido no Salão de Detroit 2013). Marca mantém planos para um compacto mais barato que o Fit em 2016.
MERCADO interno caiu 5% no primeiro quadrimestre contra igual período de 2013. Produção cedeu ainda mais (12%), apesar de as exportações para a Argentina terem ajudado na recuperação de 56% no número de veículos vendidos ao exterior em abril sobre março deste ano. Estoques totais caíram de 48 dias 40 dias, mas ainda continua difícil animar compradores.
ESPAÇO interno é um ponto forte do novo Corolla. Na versão de topo, Altis, faróis de led realmente fazem diferença tanto na estrada quanto na cidade. Câmbio CVT de 7 marchas cumpre bem seu papel. Regulagem do banco (elétrica, no Altis) melhorou e o volante um pouco mais vertical ficou bom, embora não devesse ser ligeiramente enviesado num carro desse porte. Versão intermediária XEi tem a melhor relação preço-benefício, sem dúvida.
SEGUNDO a Abeifa (associação de importadores e fabricantes independentes), houve queda acentuada em 2014 nas vendas de modelos de menos de R$ 100.000. Entretanto na faixa até R$ 200.000 e, na seguinte, R$ 300.000 o mercado continua ascendente.
COMENTÁRIO de seguidor, na página desse colunista no Facebook, sobre o Dia Nacional do Automóvel (13 de maio): "O automóvel é o meio de transporte que revolucionou as "migrações". Imagine se ainda tivéssemos que fazer tudo a cavalo ou com carro de boi: haja material particulado, vulgo estrume!" Ambientalistas deveriam agradecer.