Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorCom diferença de apenas 24 horas e um continente de distância, a eletrificação se fez presente em lançamentos de dois modelos bem diferentes. Aqui, a 12ª geração do sedã médio-compacto Toyota Corolla, tração dianteira, incluiu o primeiro híbrido flex do mundo; na Alemanha, primeiro Porsche 100% elétrico, o sedã-cupê grande Taycan, tração integral.
O Corolla recebeu arquitetura totalmente nova e estilo arrojado para os padrões da fabricante japonesa. Estética ficou bem melhor, inclusive por ser 2 cm mais baixo, embora distância entre eixos seja a mesma e existam diferenças mínimas em largura e comprimento. Porta-malas manteve os 470 litros. Inexplicavelmente, o tanque diminuiu de 60 para 50 litros (43 litros, no híbrido), o que significa autonomia menor. No entanto, consumo urbano no híbrido flex alcança nada menos de 16,3/10,9 km/l, gasolina/etanol. Na estrada, 14,5/9,9 km/l, respectivamente.
Motor convencional, de 2 litros, é todo novo e mais potente que o anterior: 169/177 cv, gasolina/etanol. Pela primeira vez, o Corolla dispõe de suspensão traseira independente e o comportamento dinâmico, que já era bom, ficou melhor. Novo câmbio CVT também impressiona pela progressividade, inclusive logo ao sair da inércia. No caso do híbrido, o desempenho é bem menor, potência combinada com os dois motores elétricos de apenas 122 cv, mas as respostas ao acelerador ainda são razoáveis.
No interior, em especial nas versões superiores, a qualidade dos materiais é ótima. Central multimídia, fácil de operar, poderia ser mais bem desenhada. Falta saída de ar para o banco traseiro. Pacote de segurança inclui frenagem automática de emergência e alerta de mudança de faixa, entre outros. Preços: R$ 99.990 a 130.990.
Porsche Taycan, apresentado apenas de forma estática, era muito aguardado pela tradicional esportividade da marca e do prometido preço competitivo. Embora ainda distante dos carros convencionais, manteve preços entre o SUV Cayenne e o sedã grande Panamera. Quando chegar às concessionárias em outubro custará de 152.200 (Turbo) a 185.500 (Turbo S) euros, na Alemanha. No Brasil, em 2020, começará por pouco menos de estimado R$ 1milhão.
Linhas fluídas e esportivas (Cx apenas 0,22) destacam-se, mas a entrada de ar vertical junto ao farol não agrada. Tem só 1,38 m de altura, sem grande prejuízo ao acesso. Bancos dianteiros encaixam-se em rebaixos no assoalho e em conjunto com a posição vertical do volante o identificam como legítimo Porsche. Comandos dispensam teclas e botões (à exceção do de partida, à esquerda) e a superfície da tela digital vibra ao acender os faróis. Há dois porta-malas: dianteiro, 81 litros e traseiro, 366 litros.
Baterias permitem autonomia de até 450 km e a recarga, por inédito sistema de 800 V, varia entre 9 horas (0 a 100%) e 22,5 min (de 5% a 80%). Dois motores elétricos entregam potência de 625 cv, mas no modo de superaceleração passam a 680 cv e torque de 86,6 kgfm. No Taycan Turbo S são 761 cv e, nada menos, 107 kgfm. Aceleração de 0 a 100 km/h em até 2,8 s, apesar da massa total de 2.300 kg. Curiosamente há duas marchas no câmbio, quando os elétricos comuns exigem apenas uma.
ALTA RODA
SETEMBRO vem sendo um mês congestionado por lançamentos de novas gerações e não simples maquiagens. Corolla, semana passada; Onix sedã, esta semana; Hyundai HB20, na próxima (inclusive com fotos e características antecipadas como novo motor turbo e dimensões maiores), além do Kia Cerato mexicano. JAC apresentará cinco produtos elétricos.
ANUNCIADO o acordo entre CAOA e Ford. O grupo brasileiro adquiriu, por valor ainda não revelado, a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) onde produzirá os atuais caminhões e um carro (mais provável, SUV) de outra marca. Apostas são na chinesa Changan, que já passou pelo Brasil. Especula-se ainda que outra chinesa, Great Wall, também estaria interessada no País.
CONTÍNUA baixa do mercado na Argentina terá impacto maior que o esperado pela Anfavea sobre a produção brasileira de veículos em 2019. Nos primeiros oito meses a produção subiu apenas 2% sobre o mesmo período do ano passado. A entidade revisará suas previsões já em outubro pela forte queda das exportações. Empregos caíram 3,3% frente a agosto de 2018.
VENDAS ao mercado interno em agosto foram 2,3% menores que igual mês do ano passado, mas na comparação do acumulado dos oito primeiros meses subiram 9,9%, ainda um bom resultado. Estoques, no entanto, continuam em elevação: de julho para agosto passaram de 40 para 42 dias. Até o final do ano, porém, o mercado deve recuperar o fôlego.
FINALMENTE, Brasil e Argentina adotarão livre comércio de veículos, mas apenas dentro de 10 anos, após inúmeros adiamentos. Ainda não ficou claro como o atual regime flex (para cada US$ 1 importado do vizinho o País pode exportar US$ 1,5 sem impostos) será desmontado, nem como ficaria o acordo com os europeus. Isso obrigará o custo Brasil a cair na marra.