Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorDois lançamentos no mesmo dia, do mesmo fabricante, é incomum, mas em mercado recessivo e de muita concorrência pode ocorrer, como aconteceu com o hatch de teto alto Fox 2015 e a cabine dupla da picape compacta Saveiro (esta, na realidade, só chega às lojas em três semanas).
Comparar preços continua sendo missão difícil porque os carros vão ficando mais completos e caros, porém o que é acrescentado, em geral, tem repasse inferior ao custo real em razão da forte competição. O Fox com motor de 1 litro agora parte de R$ 35.900 (modelo 2014 custa apenas cerca de R$ 500 a menos, ar-condicionado também opcional), mas recebeu, além de uma atualização externa e interna inspirada no Golf, novos equipamentos como direção eletroassistida com volante regulável em altura e distância.
A estratégia da VW reposicionou o modelo para cima em razão do fim de produção do Polo, antes do final do ano. Explica recursos antes indisponíveis, entre eles controle eletrônico de estabilidade/tração/partida em rampa, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema de navegação com tela tátil e inédito farol de neblina com luz de conversão. Oferece, ainda, o novo motor 1.6 l/120 cv (etanol), de duplo comando multiválvulas, e câmbio de seis marchas, conjunto realmente bastante superior ao atual (ainda aplicado nas versões mais acessíveis). Em viagem de avaliação impressionou pela suavidade, respostas em baixos regimes e silêncio a bordo.
Com todos os opcionais possíveis um Fox supera os R$ 63.000. E daí? Representará apenas 1% ou 2% das vendas, se tanto, da mesma forma que bem poucos vão comprá-lo sem ar-condicionado. Antes havia um intervalo de no máximo 50% entre os preços das versões de entrada e de topo, na maioria dos modelos. Agora, pode ir além de 70%, o que indica direito de livre escolha do mercado.
Na briga entre cabines duplas Saveiro versus Strada, a comparação é mais complicada. Acrescentar a terceira porta teve custo elevado para a Fiat, cuja versão de topo passa dos R$ 70.000, preço superior ao de picapes médias. Saveiro começa em R$ 47.500 e a versão Cross vai a R$ 63.000 (34% de diferença). Enquanto a Fiat pode ter motor mais potente (1,8 l/132 cv), a picape da VW é superior no uso fora de estrada, inclusive com freio ABS específico e controles de tração/partida em rampa/estabilidade. Seu bloqueio eletrônico do diferencial é muito mais eficaz nessas condições do que o sistema eletromecânico da rival, que obriga o motorista a parar e apertar um botão, além de inoperante acima de 20 km/h.
Apesar de a Strada ser mais larga externamente graças aos penduricalhos, ela é oito cm mais estreita no banco traseiro e foi homologada para apenas dois passageiros atrás. A Saveiro pode levar três, desde que sejam crianças ou pessoas de baixa estatura e não robustas. Tem pequena vantagem no espaço para joelhos e na inclinação do encosto do banco traseiro. Apesar de suas portas dianteiras maiores, é incomparável a facilidade de acesso da rival. A picape da VW peca por nem ao menos dispor de um conjunto corrediço nos bancos dianteiros. As caçambas de ambas apresentam o mesmo volume de 580 litros, mas o estepe da Saveiro é embutido.
Plano de manutenção da VW, a cada seis meses apenas, deixa seus produtos em desvantagem financeira frente aos concorrentes.
RODA VIVA
FORD pretende ampliar a faixa de atuação do Ka, antes mesmo da GM definir sua nova família de modelos de entrada. Há espaço abaixo de R$ 35.000 e acima de R$ 45.000. No segundo caso com o motor de 1,6 l/130 cv do Fiesta ou de 1 litro/3 cilindros com turbo e injeção direta (EcoBoost), numa versão esportiva.
PAÍSES da América do Sul, fora do Mercosul, estão nos planos para aumentar as exportações brasileiras de veículos, hoje dependentes da Argentina. Exige acordos entre governos a fim de diminuir tarifas de importação. Para funcionar, o Brasil teria que importar mais rosas colombianas e bananas equatorianas, por exemplo.
SANDERO subiu alguns degraus em dirigibilidade, acabamento e estilo nessa nova geração. Por seu preço muito competitivo ainda deve em maciez de direção e comando do câmbio, mas espaço interno é referência no segmento. Motor de 1 litro/80 cv, pouco para seu porte, é econômico. O de 1,6 litro/106 cv demonstra melhor equilíbrio desempenho/consumo.
PEUGEOT 208 foi bem no teste de impacto frontal do Latin NCAP: quatro estrelas. Estruturalmente é igual ao modelo homônimo francês, mas o modo de pontuação continua discutível e baseado em premissas irreais para mercados de menor poder aquisitivo. Serve apenas como referência comparativa, pois Onix e Palio alcançaram três estrelas.
NESSA quinta fase de testes, a Latin NCAP divulgou relatório menos arrogante e adotou um tom professoral que soa falso. Em aferição de segurança infantil os critérios são ainda mais jogo para plateia. Na Europa, após vários questionamentos, há revisões em curso porque nem lá carros pequenos conseguem proteção infantil total.