Fernando Calmon
Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.
Ver artigos deste autorAo término do primeiro trimestre, o mercado interno apresentou números fracos, em relação ao mesmo período de 2013, já descontado o efeito sazonal do Carnaval. Até agora as previsões para 2014 variam entre uma queda simbólica de 1% (alguns já admitem 3%) e um crescimento também marginal de 1%. Trata-se de um ano complicado: começou com pequeno aumento de IPI e o acréscimo de preço decorrente da obrigatoriedade de freios ABS e airbags frontais que atingiu carros de entrada.
Embora a queda trimestral de 2014 frente a 2013 alcance 2,1%, indicador preocupante é o estoque total de todos os tipos de veículos nas concessionárias e fábricas. Passou de 37 dias em fevereiro para 48 dias, no final de março. Cada mercado tem um nível considerado ideal pelo volume de vendas, opções de modelos e hábitos de compra. Nos EUA vai até mais de 70 dias. No Brasil, o normal já foi de 25 dias, mas com o aumento de oferta e quase 60 marcas apenas de automóveis e comerciais leves consideram-se aceitáveis até 35 dias. Portanto, estoques estão quase 40% maiores que o padrão, o que não acontecia desde 2008.
Do lado da produção, responsável direta pelos empregos, a redução foi bem maior (8,4%) em razão da forte queda de exportações para a Argentina. Diminuiu a participação de veículos importados de todas as origens – único indicador favorável à indústria – nos licenciamentos totais do mês passado para 16,5%, quase 10 pontos percentuais abaixo dos picos de 2011/12.
Quanto às tendências, pela primeira vez nos últimos anos se inverteu a curva de participação declinante dos motores de 1 litro entre os automóveis. Voltou, em março, a superar 40% e, tudo indica, pode continuar a subir. Uma nova leva de unidades de três cilindros, mais modernas, potentes e econômicas, aumentará a oferta e o interesse dos compradores.
Igualmente atípico o resultado dos modelos mais vendidos em março. Strada foi a primeira picape a liderar o mercado, desbancando ao mesmo tempo o Gol (em terceiro) e o Palio (segundo). O compacto da VW já perdeu a liderança outras duas vezes em meses isolados, em anos recentes. Com o fim da versão mais antiga e barata (geração 4), o seu substituto (up!) em processo de aceleração de produção (chegou na segunda quinzena de fevereiro) e o anúncio do ano-modelo 2015 agora em abril, era previsível perder uma ou duas posições, embora ainda lidere no acumulado do ano.
Da mesma forma, o fim do Mille levou o Uno a também cair duas posições, de segundo para quarto, possivelmente seu pior resultado desde o começo dos anos 1990. Vai se recuperar pois receberá leve reestilização até o meio do ano.
É cedo para saber como 2014 terminará na dura disputa entre modelos. O mercado está mais informado sobre novidades. Apenas entre veículos pequenos, a Volkswagen, além do novo motor de 1,6 litro e 1 litro/três cilindros para toda a linha, terá o up! de duas portas, novos Fox e Saveiro de cabine dupla (duas portas). A Ford lançará o novo Ka, hatch e sedã, simultaneamente. Nissan contará com novos March e Versa; Renault, o Sandero. Fiat confia no ano completo do Strada de três portas e revitalizações do Linea (ler abaixo) e do Uno. Há que se esperar para ver a decisão dos compradores.
RODA VIVA
FIAT revitalizou o Linea com retoques na frente, traseira, interior e novas rodas de liga leve. Resultado final ficou bom, salvo o aplique no para-choque traseiro para encobrir a reentrância da placa que subiu para a tampa do porta-malas. Melhorou a qualidade dos materiais de acabamento, embora sem maciez ao toque. Entre acessórios originais, tela multimídia/GPS.
SUSPENSÃO um pouco mais macia está de acordo com a proposta do Linea. O que atrapalha é que se trata de uma espécie de Grand Punto, semelhante ao Siena/Grand Siena. Aí fica difícil concorrer com médios autênticos. Preços anunciados (R$ 55.850 a R$ 66.450) estão alinhados ao que já era cobrado atualmente. Então terá baixo impacto no mercado.
MOTORES flex são agora disponíveis para os JAC J3 (hatch) e J3 Turin (sedã), mas versões só a gasolina de 1,35 litro continuam. Além do sobrenome S Jetflex, motor desloca 1,5 litro e oferece 127 cv/15,7 kgfm (etanol). Destaca-se pelo funcionamento suave e bom desempenho: 0 a 100 km/h em 9,9 s (raro nessa cilindrada). Preços: R$ 39.990 e R$ 41.690, respectivamente.
FROTA brasileira de veículos ao final de 2013, segundo estudo do Sindipeças, ultrapassou 40 milhões de unidades, ou exatas 40.087.191. Dados da Anfavea, com pequena variação na taxa de sucateamento, indicam um pouco menos: 39,7 milhões. O País alcançou, assim, a densidade de cinco habitantes por veículo. Há ainda mais 13 milhões de motos aptas a circular.
SEMPRE se ouve falar sobre a concentração do modal rodoviário em transporte no Brasil. Segundo o instituto de logística Ilos, o País tem apenas 29.000 km de ferrovias, China 77.000 e Índia 63.000. Mas em rodovias pavimentadas aqui há somente 212 mil km contra 1,57 milhão na Índia e 1,58 milhão na China. Ou seja, proporção muito inferior de estradas em áreas semelhantes.