Fernando Calmon

Engenheiro e consultor técnico de comunicação e de mercado e jornalista especializado desde 1967. Seus textos são publicados simultaneamente em 35 jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior. A coluna - Alta Roda - começou a ser publicada em 1999 e firmou-se como referência no jornalismo especializado pela independência e análises objetivas.

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ALTA RODA - ENTRE O FUTURO E A REALIDADE

Postado em 14/10/2016 - 13:26

O Salão do Automóvel de Paris, o mais longo entre as exposições internacionais e que se encerra no próximo dia 16, evidenciou a aposta da maioria dos fabricantes em modelos híbridos, híbridos plugáveis e elétricos. Embora a indústria veja esse cenário como oportuno, ainda não se tem certeza de como os consumidores dos mercados maduros do Hemisfério Norte vão “abraçar a causa”. Nos elétricos, a autonomia tem aumentado, mas não há a segurança de recarga rápida e capilar. E por ainda demandar subsídios governamentais para trazer os preços a uma realidade aceitável, mesmo para compradores de alto poder aquisitivo, sobram dúvidas.

 

O mercado europeu continua a caminhar, até certo ponto, de forma contrária ancorado no baixo preço atual da gasolina e diesel. A crescente aceitação de SUVs e crossovers ficou marcada mais uma vez em Paris, apesar de significar aumento de consumo de combustível e, como consequência direta, de CO2. Um dos modelos conceituais que chamaram atenção foi o BMW X2, um crossover compacto que segue a moda. Seu estilo, sem dúvida, é o mais atraente da gama X do fabricante alemão, que não revelou sua mecânica, mas deverá ser a do X1 de tração dianteira. No outro extremo está o novo Land Rover Discovery de sete lugares que, apesar das dimensões avantajadas, perdeu quase 500 kg de massa por usar estrutura em alumínio.

 

Dois compactos, no entanto, roubaram a cena. O novo Nissan March (Micra, na Europa) rompeu com o estilo convencional e ficou ainda mais ousado que o Kicks. A marca japonesa afirmou que o modelo ainda está distante de produção no Brasil, vai depender da recuperação do mercado aqui. Mesmo discurso adotou a Citroën em relação ao novo C3 cuja renovação estilística é marcante. Mas tudo pode não passar de dissimulação, o tradicional “esconder o jogo”. Sem dúvida, o cronograma de lançamento para estes dois modelos pode se dilatar, mas quem ficar parado no tempo corre o risco de se dar mal no futuro.

 

Sandero e Logan (Dacia na Europa) passaram a ter estilo um pouco mais refinado e, tudo indica, os Renault homônimos produzidos no Brasil e em 2017 também na Argentina não acompanharão. O CH-R, que de tão arrojado parecia ser um exercício de estilo, estreou no salão praticamente igual à forma original concebida e pode inspirar as linhas do futuro crossover que a Toyota produzirá no Brasil.

 

Novo Audi Q5 a ser feito no México dentro de alguns meses e, portanto, com preço competitivo aqui, impressionou bem pelo desenho marcante que dá início à estratégia de diferenciar mais a linha de automóveis dos crossovers e SUVs. A Volkswagen procurou demonstrar uma guinada tecnológica em direção à eletrificação e aos carros autônomos para virar a página em relação aos motores a diesel.

 

Sem lançamentos de impacto este ano em Paris entre os carros esporte, os Mercedes-AMG GT Roadster e C Roadster acabaram por roubar a cena. Tornaram-se a demonstração viva de que, embora o clima não ajude, sempre há espaço para conversíveis, mesmo que representem parcela quase simbólica das vendas totais. Mas dessa liberdade os europeus não abrem mão.

 

RODA VIVA

SETEMBRO foi um mês ruim para o mercado interno por ter menos dias úteis e greve bancária. Volkswagen estava sem estoques depois de 30 dias com as suas três fábricas paradas em razão de conflito com um fornecedor de bancos. Queda atingiu 20% sobre o mesmo mês do ano passado e de 23% no acumulado de 2016. Anfavea manteve previsão anual em menos 19% sobre 2015.

 

ESTOQUES totais de 40 dias de setembro (mesmo sem nada nos pátios da VW e da sua rede) continuam altos. Sinalização para o último trimestre indica leve recuperação, na realidade números um pouco menos negativos. Fenabrave (associação das concessionárias) prevê que vendas de automóveis, comerciais leves e pesados encolherão cerca de 20% nos 12 meses deste ano.

 

FIAT MOBI tem vantagem na hora de entrar numa vaga mais apertada por suas dimensões menores e a versão Way com altura de rodagem elevada mostra eficiência em pisos irregulares. Visibilidade traseira é um ponto fraco em especial no uso urbano. Em termos de desempenho quase nada muda em relação ao Uno quando tinha os antigos motores de quatro cilindros.

 

GRAÇAS à legislação, que considera picapes de cabine estendida ou dupla como veículos comerciais, a Fiat Toro receberá o novo motor de quatro cilindros flex com cilindrada maior de 2,4 litros e 175 cv. O mesmo motor, colocado no Jeep Compass (considerado automóvel), precisou se limitar a dois litros para enquadramento competitivo no IPI.

 

PASSARAM-SE cinco anos e o Denatran não implantou o sistema que aponta se o veículo sujeito a recall (revocação) por problema de segurança deixou de atender. A notificação sairia no certificado de licenciamento anual e poderia melhorar o índice de comparecimento às concessionárias, hoje inferior a 50%. E, pior, sem solução à vista para essa estranha omissão.

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